quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Desabafos

Começo o meu dia com uma grande angústia. Só me apetece ficar na cama para que o dia passe mais depressa, mas infelizmente não posso... Tenho que me levantar, colocar um grande sorriso na cara e sair de casa para trabalhar. Não consigo perceber bem o porquê de me sentir assim. Sinto-me sozinha mesmo quando estou acompanhada por mil e uma pessoas. Não consigo falar com ninguém, só quero me deixem estar sozinha nesta dormência. Não quero ninguém, só me quero a mim.

Por volta das 11h recebo um telefonema e saio para a rua a correr para ir ter contigo. Ecoavam-me na cabeça as palavras que me tinham dito ao telefone "Preciso de ti aqui, ao pé de mim." Fiquei desesperada, ele nunca me tinha falado duma forma tão pausada e triste. Enquanto me apressava o mais que podia, passavam pela minha cabeça milhares de coisas. "Será que ela vai ser transferida? Será que ela vem para casa?" Prometi a mim mesma que não iria pensar em coisas más. Recuso-me a sofrer por antecipação!
Nunca uma viagem de táxi foi tão demorada, mas finalmente cheguei ao meu destino. Entrei pelo hospital a chorar baixinho, não consegui aguentar o nervosismo... Encontrei-te num corredor, misturado com dezenas de pessoas e logo percebi o que se tinha passado. Olhaste para mim com os olhos já molhados e abanaste a cabeça. Nesse preciso instante tudo o que estava à minha volta desapareceu e fez-se ouvir um profundo silêncio. Tudo o que eu era naquele momento caiu ao chão, fiquei sem sentido, simplesmente deixei de existir, deixei de ouvir, deixei de falar, deixei de respirar. Eu tinha acabado de perder uma das pessoas que mais amava e isso sufocava-me. Queria desaparecer, queria ficar sozinha para poder gritar de pleno pulmões "porque é que te foste embora?". Não queria abraços, não queria beijos, queria ficar sozinha! Queria chorar sem que me dissessem que tudo estava bem, queria chorar sem que me tentassem acalmar, queria gritar sem que me pedissem para me calar.
A verdade é que nesse dia não consegui ficar um único momento sozinha, ninguém conseguía perceber que o que eu queria e eu também não o conseguía dizer...

Tudo nesse dia parecia que acontecia em câmara lenta, nada mais me podia afectar, uma vez que já tinha atingido o fundo. Não consegui falar muito, preferi pensar em silêncio. A verdade é que a única coisa que me vinha à cabeça era a última vez que te tinha visto. Não me despedi de ti... Não te disse o quanto eras importante para mim, não te disse o quanto te amava.
Foi assim que passei o dia em que soube que te perdi. Passaram 2 anos mas ainda sinto como se fosse hoje...

Desconhecia por completo que podia existir um sentimento destes. É impossível explicar por palavras. O saber que nunca mais te vou ver é muito forte. Parece que estou num buraco bem fundo e não consigo subir para respirar. Sinto que levaste uma parte de mim que sorria mais, que era verdadeiramente contente. E deixaste ficar uma parte triste, calada e pensativa demais.

Mãe... Tenho saudades tuas... Tenho saudades do que conseguía ser quando estava contigo. Tenho saudades das tardes que passávamos juntas no parque a cochichar de coisas que não lembram a ninguém. Lembras-te das sopinhas que comíamos no banco de jardim na tua hora de almoço? Lembras-te dos bolos com chantilly que acompanhavam a nossa merenda da manhã? Lembras-te de quando eu aparecia sem aviso só porque tinha saudades? Eu lembro-me... Tenho pena de não conseguir aparecer agora ao pé de ti. Estou cheia de vontade de receber um abraço forte, daqueles que só tu sabes dar e receber um beijo, daqueles que só tu sabes dar...




2 comentários:

Formiguinha disse...

Que linda homenagem!!!

De cerrteza que ela sabe tudo o que não lhe disseste por palavras!!!

Bêjos

Luazinha disse...

A estrelinha chamada mãe estará sempre a guiar-te...
E onde quer q esteja sabe a excelente filha que tem, e orgulha-se nisso...
Sê feliz e faz isso por ela e por ti!