Naquela noite estiveste aqui comigo. Jantámos juntos, sorrimos, bebemos, festejámos… Sinto-me tão bem contigo, consegues fazer-me sentir uma mulher de verdade. Não sei como consegues, a verdade é que não me conheces assim tão bem, serei assim tão transparente? Acho que nunca passámos tanto tempo juntos a conversar. Sabe tão bem falar contigo, tudo te interessa. Sinto que bebes cada palavra que digo. Tens sempre um olhar interessado, com os olhos semicerrados. Passámos todo o jantar a conversar sobre coisas banais, mas no final olhavas sempre para mim à espera que eu dissesse mais alguma coisa. Penso que não querias falar muito e até agora ainda não percebi muito bem porquê. A verdade é que eu só me queria calar e ficar parada a olhar para ti, mas não… Tu estavas sempre a tentar fazer com que a conversa continuasse. Parecia que tinhas medo do silêncio. Meu querido, não é preciso ter medo do silêncio… As coisas mais importantes são ditas em silêncio, com pequenos gestos, com olhares escondidos.
Gosto da forma como me olhas, tens sempre um ar enternecido com um sorriso pronto para me fazer corar. Fazes-me sentir mesmo bem... O teu olhar diz-me tanta coisa. Às vezes olhas-me com um sorriso meio escondido, o que queres dizer com isso? Eu apenas te consigo retribuir o olhar na esperança que haja mais qualquer coisa escondida e logo a seguir perco-me no momento.
Voltando ao nosso jantar. No final da refeição saímos, nada como acabar a noite com os amigos num bar. Tu, sempre cavalheiro, deste-me o teu braço e sem qualquer tipo de cerimónias lá fomos nós. Quando chegámos ao destino os teus olhos não me largaram mais. Esses olhos… Quando olham para mim todo o meu corpo treme e quase que perco o meu equilíbrio. As minhas pernas começam a tremer, nascem umas borboletas no meu estômago que teimam em não ficar quietas, a minha respiração fica descompassada, o coração começa a bater mais rápido e a minha cara fica subitamente mais quente que o normal. Como é que tu consegues provocar tudo isto em mim só com um olhar?
Depois de mil e uma trocas de olhar, de mil e uma tentativas de conversa fiada tu decidiste agarrar-me e começar a dançar ao som de uma música só nossa. É incrível como me conheces tão pouco e ao mesmo tempo sabes tanto sobre mim. É incrível como com gestos tão simples como os teus me consegues fazer sentir tão bem… Colocaste as tuas mãos na minha cintura, encostas-te a tua cabeça no meu cabelo e dançámos num mundo só nosso. Por vezes afastavas-te para me olhares nos olhos e sorrires, mas no final voltavas sempre para mim. Assim que a nossa música parou voltámos para perto dos nossos amigos e o teu braço nunca mais me deixou sozinha. Senti verdadeiramente o teu calor, a tua respiração, o teu toque… Não consegui ouvir mais nada, a única coisa que eu consegui fazer foi aproveitar cada instante que estive tão pertinho de ti.
No final da noite despedimo-nos com mil e um beijos, cada um mais doce que o anterior. Infelizmente nenhum deles representou o que eu realmente sentia, porque se assim fosse nós nunca nos teríamos despedido nessa noite.
Mais uma vez entrei em casa muito devagarinho sem fazer barulho, sempre com a esperança de não te acordar. Entrei no meu quarto e vi a minha cama vazia e fria tal como a tinha deixado. Desta vez não fiquei desiludida porque ainda conseguia sentir o teu cheiro, ainda me conseguia lembrar de cada traço da tua cara, ainda te conseguia sentir ao meu lado…